A mais longa estiagem dos últimos 100 anos no Rio Grande do Norte está mudando hábitos e transformando paisagens interior a dentro. Reservatórios secaram, cachoeiras desapareceram e o verde da vegetação ganhou tons de cinza. O solo rachou, animais morreram, plantações foram dizimadas. Os prejuízos, somente no ano passado, somam R$ 3,8 bilhões. E o sertanejo, que sofre com escassez, agarra-se à fé. As previsões para o ano que vem não são boas. Um reservatório com obras atrasadas e a transposição do rio São Francisco, que sequer tem data para chegar ao território potiguar, são as soluções apontadas pelos governantes.
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RUÍNAS DE SÃO RAFAEL |
Ruínas da antiga São Rafael, inundada durante a construção do maior reservatório do Rio Grande do Norte, tornaram-se atrações turísticas. A 'Atlântida do Sertão', como foi apelidada a velha cidade, ressurgiu por causa da longa estiagem que atinge o estado. As águas baixaram tanto que revelaram o que restou de alguns dos prédios encobertos há mais de 30 anos pelas águas da barragem. A igreja e o cemitério estão lá. Na época, segundo o Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (Dnocs), 730 famílias tiveram quer ser reassentadas em um ponto mais alto do município.
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RUÍNAS DE SÃO RAFAEL |
Dos 167 municípios do estado, 153 estão em estado de emergência pela falta de chuvas. Destes, 122 são abastecidos por caminhões-pipa. Em onze cidades, que se encontram em colapso no abastecimento, o fornecimento de água está comprometido e a Compahia de Águas e Esgotos (Caern) suspendeu a cobrança das faturas. A maior barragem do estado, a Engenheiro Armando Ribeiro Gonçalves, já atingiu o volume mais baixo de sua história. Nas regiões afetadas tem gente que só pensa em ir embora.
Para ver de perto os efeitos da seca, equipes do G1 e da Inter TV Cabugi percorreram aproximadamente 1.400 quilômetros. Durante cinco dias foram visitadas 19 cidades nas regiões Seridó e Oeste do estado. Em Acari, Antônio Martins, Carnaúba dos Dantas, Currais Novos, João Dias, Luís Gomes, Paraná, Pilões, Riacho de Santana, São Miguel e Tenente Ananias o colapso no abastecimento faz os moradores dormirem mal, angustiados com a escassez. E é preciso levantar cedo para enfrentar as filas em busca de alguma água. Já em Apodi, Caicó, Itajá, Jucurutu, Lucrécia, Parelhas, Pau dos Ferros e São Rafael, é o nível baixo das barragens que preocupa.
As respostas para o homem do campo são ruins não apenas quanto à possibilidade de uma mudança no clima, mas também em razão das soluções apresentadas pelos governos federal e estadual. A construção da barragem de Oiticica, apontada como salvação para meio milhão de sertanejos, segue a passos lentos.
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AÇUDE DE ACARÍ |
Em Acari, no Seridó, o espetáculo das águas sumiu. A última sangria do açude – que é quando as águas passam por cima da parede formando uma gigantesca cascata artificial – aconteceu em 2011. De lá para cá o reservatório vem perdendo água. Hoje, está com apenas 0,2% de sua capacidade total. Mesmo assim, ainda atrai muita gente. Os visitantes vão ao local para contemplar a desolação.
Em Caicó, o fornecimento de água acontece na forma de rodízio. Cada bairro da cidade só recebe água uma vez por semana. O açude Itans, que abastece o município, está quase seco. O reservatório chega a armazenar 81 milhões de metros cúbicos de água, mas com menos de 4% da capacidade total já entrou no volume morto.
Quem também pensa em fugir da seca é a dona de casa Alzirene Oliveira, de 57 anos. Ela mora em Antônio Martins, que fica na região Oeste. A cidade é uma das onze que está em colapso no abastecimento. “Isso não é vida. Vou embora pra Natal. Se não voltar a chover logo, arrumo minhas tralhas e vou tentar coisa melhor na capital”, afirmou.
Em Antônio Martins, a zona rural é abastecida pelos caminhões-pipa do Exército. Já na área urbana da cidade, a Caern faz o fornecimento. Segundo o pipeiro João Batista, são cinco veículos contratados pela companhia. "Cada carro faz cinco viagens por dia.
Fonte: G1 RN
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